Tributo ao Confrade João Barreto

A última coisa que desejava, a esta altura, era escrever um tributo para alguém, principalmente para o querido João Barreto – um confrade amável e dono duma educação oriunda doutra época – educação “não mais fabricada”, como costumo dizer.
Neste instante, não vos falo, prezados leitores, como um poeta – embora não me possa desvencilhar da linguagem tão característica dos filhos de Polímnia e Calíope, musas da Poesia. – Falo-vos como um simples jovem maruinense, desalegre pelo falecimento de um homem a quem apegou-se e de quem sentia o apego.
Nunca consegui encontrar uma explicação para o tratamento que dava-me a cada vez que avistar-me. Era assim: “Como chamas ao chapéu que carregas sobre a cabeça?”; “Eu vi o candelabro dos judeus num determinado lugar!”; “onde fica o lugar onde vocês [judeus] se reúnem?” “como vai a tua congregação [kahal]?”
-Sinto sua falta, neste instante, e sei que sentirei ainda mais em nossas reuniões anuais e solenes, as que temos na Academia Maruinense de Letras e Artes – e sou cônscio de que não falo somente por mim, aqui, mas também em nome de Sua Excelência, Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, nossa presidente, e por todos nossos prezados confrades e consórores, os quais não sentem um pesar inferior. – É mais uma parte da chamada ‘geração dourada’ de Maruim que se vai… De modo que é impossível não estar taciturno.

Por fim, não teria repouso em meu espírito se não expusesse meus sentimentos e lhe dedicasse mais estas linhas:
Ao confrade João Barreto
-Adeus, tão singular figura!
Não há lépido com sua ida!
Neste mundo, não há criatura
Que lhe possa repor a vida!
Grande honra é esta, a minha!
– Tornada, agora, em saudade –
Por ter tido sua companhia
N’Academia, como confrade!
Mui lastimável é, para mim,
A chegada da despedida,
E tu deixaste-me, a mim,
Qual primavera que se finda,
E sem consolo a Maruim,
Que tem su’alma rompida,
Como quem perde o jasmim,
Sua flor, a mais querida.
Suspira inconsolavelmente,
Um palácio por seu lustre!
-Esse é o luto maruinense
Pela morte de um ilustre!
ANDRADE, Hefraim.
Rua da Cancela,
10 de maio de 2020.
L^

| Hefraim Andrade é ativista, escritor, membro fundador da Academia Maruinense de Letras e Artes e integrante do Cumbuka Coletivo Cultural. |