Uma linha do tempo foi traçada pela equipe do Maruim em Pauta sobre as Trajetórias, Glórias e Memórias do Gabinete de Leitura de Maruim. Neste terceiro capítulo, da série de reportagens, assinada pela escritora, cordelista, poetisa e bibliotecária, Joelma Martins, viajaremos pela memória do Templo do Saber e do seu guardião-mor Josias Vieira Dantas.
A ERA DAS MEMÓRIAS
O termo memória que apresentaremos nesta terceira série diz respeito ao armazenamento de informações e fatos obtidos ou vividos. E em outro conceito a memória também é vista como a base do conhecimento, onde através dela damos significado ao cotidiano e acumulamos experiências para utilizarmos durante a vida. Nesse contexto falaremos de um homem Josias Vieira Dantas que apesar de não possuir diploma universitário, não deixou em nada a desejar no conteúdo de informações e realizações para o povo de Maruim, nem tão pouco isso o fez menor que os intelectuais da sua época, “gostava muito de ler jornais e revistas e escrevia muito bem” (Dantas, 2002) amou muito a sua cidade, tornou-se um guardião-mor do Gabinete de Leitura de Maruim, no qual dedicou grande parte de sua vida.

Entretanto havia nele algo de muito especial que era o amor aos livros e ao conhecimento, procurava de qualquer forma levar a sua comunidade o despertar para a importância da instrução e isso ele fez sempre começando pela sua casa dando a todos os seus filhos a oportunidade de fazer do conhecimento algo de eterno e soberano. Que os transformaram num grande exemplo de família com bastante prestigio e admiração por todos da comunidade. Os Dantas deixaram um legado bastante rico para sua cidade.
Teve uma grande participação na cultura maruinense como colaborador do Gabinete, onde exerceu vários cargos em sua diretoria desde 1914 à 1927. Que segundo seu filho Sylvio sua maior preocupação era na escolha de seus presidentes, para que aquela tão bela Instituição fosse de alguma maneira prejudicada ou abandonada. Em sua gestão fazia com que todos pudessem ter acesso a escola, para isso construiu uma escola noturna para as pessoas que trabalhavam e não tinham tempo de frequentar durante o dia.

Foi um excelente presidente em suas várias gestões, procurando sempre manter transparência e zelo pela cultura da cidade, fez do gabinete um órgão de credibilidade e prestígio para população, e tudo isto incomodava àqueles que não apreciava uma conduta correta e transparente para com os mais necessitados. E esta afirmativa se comprova em sua carta dirigida aos consócios do gabinete, nos seguintes termos: “Bem sabeis que a Intendência Municipal nos negou pagamento da mensalidade de 30$000, que o Conselho Municipal com seu espirito de justiça, entendeu dar ao Gabinete de Leitura[…] nos foi negada a luz nas aulas noturnas, que não é grátis, como não é a fornecida à Biblioteca[…] dias depois ao nosso pedido a Usina passou a fornecer 350 velas de luz, quando para nós, bastavam 50. E dizem tudo isso foi em represália a minha pessoa.” (DANTAS,2002 p.51).

Um grande visionário, acreditava que a educação era a base de tudo, começou com uma pequena escola noturna, porém não parou aí, trazendo no início da do século XX um Colégio Diocesano para homens, que com seu apoio perdurou até 1927. Em seguida traria em 1942 o Colégio da Irmandade Carmelita, no antigo sobrado no Porto Velho que beneficiava a infância pobre este colégio funcionou até 1950, sendo transformado em Seminário Carmelita que teve vigência por mais cinco anos.
Orgulho maruinense, nunca pensou em ser político, embora suas ações foram de um grande político, um homem verdadeiramente que soube ouvir a voz do povo, pois suas ações sempre foram em benefício destes. Porém seu maior orgulho foi Ginásio Maruinense, onde conseguira fazer com os jovens pudessem ter uma oportunidade melhor para enfrentar uma carreira profissional, lembro-me com muito orgulho do Ginásio, estudei meus dois primeiros anos do antigo segundo grau naquela excelente escola, fundada pelo extraordinário conterrâneo Josias Dantas.
Infelizmente anos depois teve que fechar suas porta e professores, alunos e funcionários tiveram que sair. Trabalhando sempre em prol do crescimento de sua cidade Josias após ter deixado a diretoria do Gabinete de Leitura, não parou, impulsionou seus olhos para o desenvolvimento econômico da cidade, trazendo para cá o primeiro Banco de Crédito Popular de Maroim, passando depois a assumir ações na Fábrica Sergipe-Fabril, tornando-se posteriormente empresários com vários ramos de atuação. Foi por sua capacidade profissional um grande representante das Industrias de Sergipe, participando de diversos congressos fora do estado, em uma de suas falas no Seminário Universidade e Indústria, ele assim proferiu:
“Considerando que a instrução é um grande fator para a melhoria da produtividade; Considerando que a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG) está, neste sentido, prestando valioso serviço ao Brasil, de vez que cuida da instrução dos menos favorecidos da fortuna. Proponho seja mencionado nos anais deste Seminário um voto de reconhecimento e solidariedade à CNEG e ao seu incentivador Dr. Felipe Tiago Gomes”Quitandinha, 17/11/1959. (Dantas, 2002 p.56)
Um agradecimento especial ao grande homem Josias Vieira Dantas, por toda sua dedicação e amor a Maruim, sua memória jamais será esquecida, pois seus atos se eternizaram nas letras e nas mente daqueles que reconhecem na história de seu povo e seu lugar, um celeiro de conquistas e de pertença, que nos orgulham a cada dia.
Obrigado, Josias por tudo que nos fizestes!
Até amanhã!
Joelma Martins

| Joelma Martins é Licenciada em Letras Português (UNIT) e Bacharel em Biblioteconomia e Documentação (UFS). Pós-Graduada em Didática do Ensino Superior e Gestão Educacional. Escritora, Cordelista, Poetisa, Bibliotecária do Gabinete de Leitura de Maruim e imortal na Acadêmica Maruinense de Letras e Artes, ocupa a cadeira Nº 8, cujo a patrona é Josilda de Mello Dantas. |